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Atlético-MG x Botafogo: Final única da Libertadores é um sonho europeu, mas realidade sul-americana difícil

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(Foto: Divulgação/River Plate-ARG)

A implementação do formato de final única na Copa Libertadores, inspirada na Champions League, trouxe debates intensos e revelou um descompasso evidente entre o ideal europeu e a realidade sul-americana. Desde 2019, quando o novo modelo foi adotado, a Conmebol busca elevar o status da competição, mas a decisão parece ignorar aspectos econômicos, culturais e geográficos do continente.

A América do Sul enfrenta desafios únicos que tornam o formato de jogo único problemático. Com enormes distâncias entre os países, malha aérea insuficiente e infraestrutura hoteleira limitada em muitas cidades, a logística se torna um verdadeiro pesadelo para torcedores e clubes. Um exemplo disso são os 40 ônibus do Botafogo presos na fronteira entre o Rio Grande do Sul e a Argentina a caminho da final entre Atlético-MG e Botafogo.

Além disso, a realidade econômica do continente penaliza as massas. A comparação com a Europa, onde o transporte ferroviário é acessível e a integração entre países facilita a locomoção, evidencia o quanto a final única é desafiadora. Enquanto um europeu pode cruzar várias fronteiras por menos de 100 euros, na América do Sul os custos de deslocamento e hospedagem são proibitivos para a maioria dos torcedores.

Fiascos e lições não aprendidas

O modelo já apresentou problemas significativos, como na final da Copa Sul-Americana de 2021, entre Athletico-PR e Red Bull Bragantino, no Estádio Centenário, em Montevidéu. A baixa adesão de público deixou o estádio quase vazio, transformando o evento em um constrangimento para a Conmebol.

Reconhecimento do grama do Estadio Monumental de Nunez. 29 de Novembro de 2024, Buenos Aires, Argentina. Foto Vitor Silva Botafogo.
Estádio Monumental (Foto: Vitor Silva / Botafogo)

Contudo, para a final da Libertadores deste ano, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, a torcida do Botafogo se supera, promete lotar o estádio com capacidade para 86 mil torcedores e deixar tudo bonito. Caso consigam chegar, é claro.

Embora criticado, o formato de final única também trouxe pontos positivos. O evento atrai maior visibilidade internacional, ajuda na venda de direitos de transmissão e impulsiona o marketing esportivo. Além disso, a concentração de esforços em um único jogo permite que a organização ofereça uma experiência mais planejada e grandiosa, semelhante aos padrões de grandes eventos globais.

No entanto, esses benefícios não superam as dificuldades práticas enfrentadas pelos torcedores sul-americanos. O futebol no continente é movido pela paixão e pela presença massiva de torcedores, algo que o formato tradicional de ida e volta respeitava e preservava.

Foto Vitor Silva Botafogo bola
Foto: Vitor Silva / Botafogo

Voltar ao passado para salvar o futuro?

Será que a Conmebol precisa repensar o modelo? O retorno ao sistema de dois jogos seria uma solução mais justa e alinhada à realidade sul-americana. Dessa forma, cada clube finalista teria a chance de decidir em casa, diante de sua torcida, garantindo uma experiência emocionante e acessível para os principais interessados: os apaixonados pelo futebol.

Respeitar as peculiaridades do continente é fundamental. A tentativa de copiar o modelo europeu, sem adaptações, desrespeita a cultura local e cria barreiras desnecessárias para os torcedores. Afinal, a grandeza do futebol sul-americano está justamente na sua autenticidade e nas suas raízes. Porém, nesse balanço entre prós e contras também admito que a aura de magia de uma final única tem seu valor e cativa de uma maneira diferenciada, além da força midiática que alcança.

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